No
Brasil, além do dia 1º de novembro, comemoramos o dia de todos os santos também
no domingo que segue a tal data e fiquei pensando nos muitos modelos de santos
e pessoas justas que temos – inclusive lembrei do poema de João Paulo II sobre
os santos de hoje. Diante dessa lembrança, tenho a alegria de refletir um pouco
hoje sobre os nossos santos de hoje, dado que a festa de todos os santos
lembra-nos praticamente das pessoas que viveram intensamente o existir nessa
história e agora vivem a ressurgir na eternidade de nossas memória (lembrando-me da bela reflexão de meu amigo Juliano). Nestas breves palavras, quero
falar de muitos e tantos santos que hoje não têm a dignidade dos altares, mas
que fazem de suas vidas uma santidade que quiçá seja maior do que a dos que
estão nos altares sendo venerados.
Quero lembrar-me aqui de alguns
santos que não entram em padrões da santidade que a sociedade e as instituições
religiosas têm, mas dos tantos humanos de nosso dia-a-dia, amantes radicais do
ser humano e viventes intensos do amor ao outro que de tanta intensidade seria
ingratidão de nossa parte negar-lhes a graça de estar contemplando o Sendo
Àquele que Sendo (Ex 3,14).
Um dos grupos de santos que muitos
conhecemos são as pessoas que se encontram e trabalham em casas de
prostituição. As religiões infelizmente santificam de forma exagerada a
virgindade e o celibato como algo que nos aproxima de Deus e por isso as
prostitutas (os) não entram nos altares para serem lembradas e veneradas.
Contudo, se observarmos, perceberemos que essas pessoas sofrem as dificuldades
da existência, amam os próximos excluídos e marginalizados (inclusive vivem e
estão com eles), ouvem e ajudam às pessoas que lhes procuram e sacrificam seus
corpos intensamente, completando em sua carne o que falta ao sacrifício de
Cristo pelo seu corpo (Col 1, 24). Lembro-me aqui de tantas dessas pessoas que
se aproximam de Deus e são acusadas pelos olhares condenadores dos muitos
profissionais do sagrado que primam pela percepção do pecado e não pelo amar
intenso de Jesus . Por isso, quero dizer, com a confiança de um devoto:
“SANTAS(OS) PROSTITUTAS(OS), ROGUEM POR NÓS!”
Outro grupo que é exageradamente
excluído da dignidade dos altares é o grupo dos homoafetivos. O papa Francisco
foi muito feliz em suas palavras quando questionou: “Se uma pessoa gay quer
procurar Deus, quem sou eu para negar-lhe?” Sabemos, porém, que a dignidade dos
altares é negada a essas pessoas que amam aos iguais como iguais, que sentem-se
diferentes junto com os diferentes... Seria um pecado não citar o grande amor
que esses dignos filhos(as) de Deus têm pelos seus irmãos, irmãs: já os vi a
cuidar dos projetos da fé, dos templos e a doarem seus dons em prol da causa de
que são excluídos e muitas vezes marginalizados, pelos mesmos muitos
profissionais do sagrado que manipulam o poder das instituições religiosas
(muitas vezes, nem lhes permitem a recepção do corpo e sangue de Cristo). Além
disso, não deixo de lembrar aqui dos muitos projetos que tentam tratar-lhes
como doentes ou dotados de “desvio conduta”. Mas, diante dessas palavras, só
posso me lembrar das palavras de Cristo: “Bem-aventurados sois vós, quando vos
injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós,
por causa de mim. Alegrai-vos e exultais, porque será grande a vossa recompensa
nos céus." (Mt 5, 11-12)... Sendo assim, só posso dizer: “SANTOS(AS)
HOMOAFETIVOS(AS), ROGUEM POR NÓS!”
Um terceiro grupo de pessoas que são
excluídas da dignidade dos altares são os tidos como Hereges, excomungados,
contra-doutrina etc. Infelizmente, as instituições religiosas são, na grande
maioria dos casos, excessivamente doutrinárias e pouco dialógicas. São como
soldados ferozes da defesa, que não se abrem para ouvir e ser ouvidos, mas
antes são defensores de suas crenças. E todos que escapam delas, são tidos como
ex-comungados ou são silenciados (lembro-me aqui de Bruno, Lutero, João Calvino,
Galileu...). A santidade dessas pessoas é destaca quando somente se aponta os
suas posições contra-doutrinárias e não as ótimas ideias e até mesmo reflexões além-de-seus-tempos
que elas doaram a humanidade de suas épocas... lembro-me aqui do momento mais
importante para perceber o Jesus ruptor que com toda certeza foi o maior
artista de ruptura de todos os tempos: “Ouviram o que foi dito... Eu, porém vos
digo...” (Mt 5, 27-28) Por isso, digo com fé: “SANTOS(AS) ALÉM-DOUTRINA, ROGUEM POR NÓS!”
Um quarto grupo de santos que creio
que está nos céus é o das pessoas em segundo casamento (amasiadas). A estas
pessoas são negados inúmeros sacramentos, ou melhor falando, só lhes permitem
receber o sacramento da penitência – são consideradas somente como pecadoras e
é-lhes negada a graça da comunhão do corpo e sangue de Cristo e dos demais
sacramentos da Igreja. Podemos perceber que o sonho dessas pessoas é a
felicidade de seus irmãos (ãs) no amor e não a fuga da experiência de
compromisso para com os outros. Infelizmente, a manipulação do compromisso
matrimonial pelas instituições religiosas fez com as estas tornassem o
matrimônio como outra instituição que é regida por leis excessivamente rígidas,
as quais são pouco preocupadas com os casos particulares. Pelo sacrifício que
estas pessoas fazem, mesmo sem culpa e pecado algum, posso dizer: SANTOS(AS)
AMASIADOS(AS), ROGUEM POR NÓS!
Inevitavelmente, esses não são os
únicos santos fora dos altares e que, provavelmente, não terão lugares nos
tronos dos templos religiosos, mas falei desses grupos, pois nunca vi sua
lembrança nos dias dos santos. Sei que nem todos são santos – tanto no grupo
dos santos reconhecidos (“santos inquisidores”, “santos reis de guerra”, santos
membros de instituições que criaram leis para oprimir os outros, etc.), bem
como no grupo dos santos além-institucionais ( existem os que são da
prostituição e exploram as pessoas em casas de prostituição; homoafetivos que
são extremamente preconceituosos contra os seus; além-doutrinários que se
revoltaram e começaram a praticar o mal; e amasiados que se dão o direito de
brincar com o sentimento dos outros, etc.). Porém, posso encerrar essas palavras,
afirmando que em sua grande maioria todos os seres humanos, que são excluídos,
têm a grande graça de ter melhorado o mundo e feito o bem com suas pequenas-gigantes
ações... por isso, “ALÉM-DOS-SIMPLESMENTE-SANTOS, ROGUEM A DEUS POR NÓS!”
JACKSON DE SOUSA BRAGA
Com os santos de minha vida, 03
de novembro de 2013.