Vivemos em tempos onde
o vazio nos inquieta e até mesmo nos incomoda. Somos os seres da era do
barulho, dos sons constantes, da negação da solidão, do afastamento do silêncio...
o vazio deixa-nos imersos no medo e na insegurança de um mundo onde o prático e
pronto mandam. A experiência da morte é disfarçada pela ilusão do prazer desenfreado
e o sofrimento é negado pelos ídolos do “ser feliz para sempre”. Neste
contexto, encontramos um sepulcro vazio, que parafraseando Sto. Agostinho,
seria o tão antigo e o tão novo local de encontro para nós.
Este sepulcro é caracterizado pelo vazio, por este mesmo
vazio que falamos acima, e que até hoje tanto nos incomoda. Contudo, o seu vazio
pode ser ressignificado a partir da percepção de sua causa: a Ressurreição do
homem Jesus. Ainda, poderíamos nos perguntar se tal vazio é garantia de sua
ressurreição? Com certeza, de uma forma empírico-científica, NÃO! Porém, a
partir de uma leitura hermenêutica, podemos ver a ressurreição acontecendo
nesse local do encontro de vivos e de mortos.
Essa ressurreição, inevitavelmente, está acontecendo na
história e no vazio, quando percebemos o chamado sem preconceitos, a partilha
do Pão, a missão renovada e a Paz fortalecedora.
O chamado sem preconceitos acontece quando olhamos para o
outro superando a artificialidade das relações, deixando o som de nossas
palavras ressoarem em seus ouvidos com uma intensa e profunda intimidade. O chamado
que a mulher na porta do sepulcro vazio ouve é caseiro, é único, é familiar: “Maria!”
(Jo 20, 16a). Por isso, é ressurreição, porque deixa próximo do amado (a). Quisera,
todos, poderem se sentir perto da vida, perto do outro, perto do “Reino de Deus” e das sonhadas bem-aventuranças do Ressuscitado.
A partilha do Pão é o maior sonho daquele homem que atuou
multiplicando a esperança dos próximos necessitados. O repartimento do alimento
e os ensinamentos ao longo do caminho fazem com que a solidão escura do vazio
seja completada pelo fogo ardente da presente de vida em nossos corações (Cf.
Jo 24, 30-31). Ele está vivo quando o vazio do egoísmo é superado pela alegria
da divisão das conquistas e da partilha. Quisera o Ressuscitado estar presente no
pedaço de pão-palavra dado a cada discípulo desesperançado de fé.
A missão renovada se torna ressurreição quando o convite
do arremesso das redes é dado aos fatigados e cansados dispensadores da
esperança. Quantas e quantos decidem voltar aos trabalhos árduos e pouco produtivos
quando podiam fazer do sonho humano de igualdade e fraternidade entre todos uma
pesca milagrosa de confiança no amor da vida (cf. Jo 21, 6). Quisera o
Ressuscitado poder saborear o gosto festivo do alimento conquistado pela renovação
dos missionários e da missão.
Por fim, o único presente que a Ressurreição pode trazer é a paz.
Mas, não se pense que paz é sinônima de anulação das perturbações. Ela é, antes
de tudo isso, uma paz fortalecedora – cujo objetivo principal é motivar para a
missão e para a inquietação-provocação em busca da grande e maravilhosa instauração
do Reino do humano Deus: “A paz esteja convosco!” (Jo 20, 19). Quisera o
Ressuscitado também continuar a graça desse desejo-convite de paz motivadora.
Portanto, o vazio é uma dor no sepulcro quando a morte é
seu único fundamento. Porém, quando a ressignificação do Homem do Reino de Deus
acontece, o desejo de vida é o maior motivador do ideal da Ressurreição e é
somente a atuação e gestos continuados do Ressuscitado que fazem da vida
trazida na Cruz a luz para a esperança do céu.
JACKSON
DE SOUSA BRAGA
No
sepulcro vazio, 31 de março de 2013, 00h51min.