Neste fim de semana se comemora
uma festa tradicional, mas não original ao projeto de Jesus de Nazaré: Jesus,
Rei do Universo. Sabendo disso, quero aqui refletir um pouco sobre o sentido
dado ao termo Rei, quando o mesmo tenta se referir a Jesus na Sagrada
Escritura. Além disso, quero salientar que o projeto do Reino de Deus não visa
criar um Rei, cuja realeza imponha o serviço e obediência (sendo-lhe lícito
condenar), mas antes uma família de amor, cujo Pai/Mãe vive intensamente uma
relação de amor e familiaridade, acolhendo e protegendo todos(as) os(as)
filhos(as) – sem exceção.
Quanto ao termo Rei, posso
atestar que Jesus não se proclama como Rei em nenhum momento na Sagrada
Escritura – nem mesmo ao Pai, Ele aplica este termo. Jesus afirma o Reino de
Deus, mas não afirma nem a si e nem ao Pai como reis. Provavelmente, esteja
remetendo às origens do povo judeu, que é condenado pelos profetas quando
escolhe um rei para o si (Samuel contragosto consagra Saul como o Rei de Israel
– Cf. I Sam 8). Podemos ainda observar que todas as vezes que Jesus foi chamado
de Rei nos Evangelhos foi como uma forma de humilhação. Inclusive, o evangelho
desse fim de semana (Lc 23, 35-43) deixa claro que o termo “rei”, quando
aplicado a Jesus, é feito em forma de humilhação: “Se tu és o rei dos judeus,
salva a ti mesmo! Acima dele havia um letreiro: Este é o Rei dos judeus”. Jesus
tem como meta trazer para a humanidade um Reino que tenha o serviço como
projeto e não uma soberania absoluta.
Ressalto ainda que o Jesus humano
e simples, mesmo diante de toda essa humilhação, foi capaz de acolher o outro
na fidelidade e amizade. Encanta-me o texto, porque não há um pedido de perdão,
mostrando que a meta de Jesus não é fazer um joguinho mercantil de “salvo, você
pede perdão e eu lhe perdoo!” A salvação é dada sem nenhuma cobrança ou
esperança de ações corretas. Jesus já garante que todos são amados e salvos por
Deus. Este não se sente no direito de condenar eternamente alguém por um ato
temporal, mas se dá o direito de amar a todos como seus(suas) amados(as)
filhos(as) que são dignos(as) de viver a eternidade das alegrias do banquete do
Pai. É interessante observar que o ladrão não nega sua condição de ladrão, mas
antes a assume e confia-se a Jesus: “lembra-te de mim!” Percebo aqui o Jesus
que acolhe, ama e anuncia a salvação das prostitutas, dos pagãos, dos hereges,
dos amasiados, dos homoafetivos etc. (Conforme salientei a santidade destes no texto anterior). E, ao mesmo tempo, Jesus expressa a calúnia que os
“profissionais do sagrado” têm o costume de fazer ao proclamar Jesus como um
rei manipulador que quer julgar e condenar os que deseja – que seria uma
injustiça, contrária ao projeto de ser o Justo Deus.
Finalmente quero dizer que Jesus
não é Rei e nunca pretendeu sê-lo, nem de Israel nem do Universo. Seu sonho é
um Reino de Amor, que é Deus (Cf. I Jo 4,13). Reinar para Jesus se associa a
sofrer, padecer, receber espinhos como coroa, ter títulos que humilham e ser
humilhado por “profissionais do sagrado” e seus guerrilheiros. Infelizmente, na
história da fé cristã, muitos “santos” fizeram de Jesus seu Rei absolutista,
representado por pontífices esfomeados de poder. Estes motivavam guerras tidas
como “santas” e até mesmo inquisições assassinas. Por isso, sinto-me motivado a
dizer contra essa mentalidade de Jesus como Rei oligarca e junto com Frei
Marcos: “O reinado de Cristo é um reino sem rei, onde todos servem e todos são
servidos.”
Portanto, tenho a alegria de
dizer que o Reino de Deus não é um reino institucional e burocrático, mas um
Reino do serviço, do amor familiar e acolhedor dos excluídos: “No Pai-Nosso, dizemos:
"Venha o vosso Reino", expressando o desejo de que cada um de nós façamos
presente a Deus como a seu Filho Jesus. E todos sabemos perfeitamente como
atuou Jesus: a partir do amor, da compreensão, da tolerância, do serviço. Todo
o resto é discurso. Nem programas, nem doutrina, nem ritos servem para nada, se
não entramos na dinâmica do Reino” (Frei Marcos).
JACKSON
DE SOUSA BRAGA
Sem
Rei e com o irmão Jesus
23 de novembro de 2013.
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